Sir Thomas Sean Connery foi o primeiro ator a dar vida ao personagem James Bond no cinema. Natural de Edimburgo, na Escócia, o ator faleceu aos 90 anos durante o sono, na madrugada do dia 31 de outubro de 2020, nas Bahamas, onde vivia com a mulher.
Sean ingressou na Marinha Real Britânica aos 17 anos, onde serviu até os 20. Após deixar a instituição, ele se sustentou trabalhando informalmente como motorista de caminhão, modelo, pedreiro e guarda-costas. Em 1950, representou a Escócia na etapa londrina do concurso Mr. Universo. Tinha 20 anos na época, e não ganhou o primeiro prêmio. Quarenta anos mais tarde, em 1990, foi eleito pela revista People como o “Homem Mais Sexy Do Mundo”. Agradeceu dizendo que gostaria de chegar à velhice com o rosto sereno de Alfred Hitchcock ou Pablo Picasso.
Não foi fácil ser James Bond, o agente de elite do Serviço Secreto Britânico, mas Sean Connery não precisou de muito esforço para encarar esse papel em seis filmes baseados na obra de Ian Fleming. Até hoje, é considerado o melhor intérprete que o agente já teve. A receita para tanto sucesso? Doses equilibradas e inconfundíveis de arrogância, sofisticação e humor.
Arrogância, aliás, ele demonstrou no primeiro contato que teve com os produtores Albert Cubby Broccoli e Harry Saltzman. Quando foi convidado oficialmente para uma entrevista com os dois, o ator logo tratou de deixar claras suas exigências: “Aceitem-me como sou, ou não me aceitem”, resumiu. Saltzman quis dispensá-lo ali mesmo, mas Broccoli o persuadiu. “Connery bateu com os punhos na mesa, e nos impôs suas condições. Quando deixou o escritório, o observamos atravessando a rua com seu andar elástico e digno de um verdadeiro super-homem. Soubemos, então, que havíamos encontrado James Bond”, lembrou Broccoli.
Sean Connery tinha 32 anos e havia acabado de assinar um contrato de seis anos, até 1967, que o obrigava a realizar a quantidade de filmes que fosse possível como 007. O ator ganharia aproximadamente US$ 9 mil dólares mensais, considerado um excelente salário na época. Um papel conquistado literalmente no grito e contra a vontade de Ian Fleming, que preferia ver seu personagem sendo interpretado por Richard Burton, James Stewart, David Niven ou James Mason.
Em pouco tempo, o escocês mostrou-se a melhor escolha que os produtores poderiam ter feito para o sucesso da série. Quando o quarto filme da série, 007 Contra A Chantagem Atômica, estava para ser lançado, a publicidade cinematográfica da época aboliu o tradicional Sean Connery as James Bond por um inédito Sean Connery Is James Bond.
Ainda assim, depois de cinco roteiros, o ator precisava provar a ele mesmo que seria capaz de fazer outros papéis e, por isso, não renovou seu contrato com Broccoli e Saltzman. O sexto filme da série, 007 – À Serviço Secreto De Sua Majestade, teve George Lazenby como Bond. Não houve, porém, como disfarçar a diferença, e os produtores conseguiram convencer Sean Connery a voltar em 007 – Os Diamantes São Eternos em 1971.
O eterno James Bond
O escocês durão e malicioso havia encarnado perfeitamente o agente secreto com licença para matar. Com a fama, Sean Connery se despediu de Bond. Contrariando o princípio sagrado das séries de ação, a de que o personagem principal não envelhece, o ator voltou doze anos depois no filme não-oficial “Nunca Mais Outra Vez” de 1983. Não foi preciso nenhum truque e o James Bond de 1983 era o Sean Connery daquela época, um agente assumidamente cinqüentão, mas com o charme e o cinismo de sempre. Mais uma vez o ator certo no papel ideal.
Em mais de quarenta anos de carreira, Sean Connery construiu uma sólida carreira cinematográfica após deixar sua marca como o personagem James Bond. Entre tantos outros papéis, o ator estrelou também filmes marcantes como “O Homem Que Queria Ser Rei”, “O Nome Da Rosa”, “Indiana Jones e a Última Cruzada”, “Caçada Ao Outubro Vermelho” e “Os Intocáveis”, que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Em 2003, estrelou seu último filme, “A Liga Extraordinária”. Em 2008, recusou o retorno a série Indiana Jones no filme “Indiana Jones E O Reino Da Caveira De Cristal”, como pai do personagem principal.
Por sua contribuição à sétima arte e ao Império Britânico, em Julho do ano 2000 recebeu o título de Sir da Rainha Elizabeth II, mesmo ao longo de toda a vida tendo lutado pela independência da Escócia do Reino Unido. A pedido do ator, a cerimônia foi realizada no seu país de origem, a Escócia, na qual compareceu vestido com um traje típico escocês, um kilt.
Na vida privada, Sean passou por duas importantes cirurgias. Em 1993, foi obrigado a se submeter à radioterapia para eliminar nódulos na garganta, e em 2003, fez operação para retirar a catarata dos olhos. Durante as filmagens de 007 Contra Goldfinger em 1964, o ator aprendeu a jogar golfe. Seis anos depois, em 1970, conheceu sua mulher, a franco-marroquina Michelline Roquebrune Connery, num torneio em que ele venceu na categoria masculina e ela, na feminina. Os dois se casaram cinco anos mais tarde em Gibraltar, e viveram nas Bahamas até os últimos dias de vida do ator, que faleceu no dia 31 de outubro de 2020.
Filmes
- 007 Contra O Satânico Dr. No (Dr. No, 1962)
- Moscou Contra 007 (From Russia With Love, 1963)
- 007 Contra Goldfinger (Goldfinger, 1964)
- 007 Contra A Chantagem Atômica (Thunderball, 1965)
- Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (You Only Live Twice, 1967)
- 007 – Os Diamantes São Eternos (Diamonds Are Forever, 1971)