A Guerra Fria e os anos 60 foram deixados de lado e estamos em 2011. Agora, James Bond tem 30 anos e é um ex-combatente da Guerra do Afeganistão recrutado pela ODG (Overseas Development Group), agência criada na Inglaterra após os atentados do 11 de setembro, nos Estados Unidos. Apesar desta nova sigla, a função é praticamente a mesma do MI6, que ainda existe na trama: proteger o Reino Unido de qualquer ameaça.
O serviço de inteligência britânico recebe a informação de que um atentado vai custar milhares de vidas e prejudicar os interesses da terra da rainha. Com poucas pistas na mão, e apenas uma semana para evitar o pior, Bond vai para Sérvia, Dubai e África do Sul tentar descobrir mais sobre a catástrofe e impedí-la. Durante as investigações, descobre uma conexão entre o irlandês Neil Duhanne e a multinacional especializada em reciclagem de lixo, Green Way International, comandada por Severan Hydt. O agente secreto então terá que usar de sua habilidade e inteligência para acabar com o plano.
O chefe continua o mesmo, “M”. As secretárias, idem: Miss Monneypenny e Mary Goodnight, esta última, do próprio Bond. E, claro, não poderia faltar a seção “Q”, responsável pela criação das tradicionais bugingangas, como um iPhone adaptado e rebatizado de iQPhone e um inalador com uma microcâmera. 007 volta a pilotar o seu tradicional Bentley e, assim como nos livros, nada de Martini. Os dois amigos e aliados de Bond, os agentes Felix Leiter, dos Estados Unidos, e Renés Mathis, da França, também aparecem na aventura, em participações que não soam forçadas.
Utilizando uma narração fluida, apesar do excesso de siglas característicos de um livro que envolve agências governamentais, Jeffrey Deaver consegue envolver o leitor. Nada do que escreve é excessivo. Cada personagem ou ação que apresenta tem uma função importante na história, sem espaços para se alongar no que não interessa. E a trama é bastante atual, com empresas politicamente corretas envolvidas em guerras e atentados. A conclusão é surpreendente e bem amarrada pelo escritor.
O mais importante, porém, foi manter a personalidade do James Bond literário. Jeffrey Deaver conseguiu captar o personagem, que não é um assassino frio e calculista como o cinema, mais atualmente com o ator Daniel Craig, tenta nos apresentar. Os vilões também são bem delineados e têm suas esquisitices típicas do universo de 007: o irlandês evita ao máximo demonstrar qualquer emoção e Severan Hydt tem atração física por corpos humanos em decomposição.
Carte Blanche não é só um belo exemplar de uma aventura de James Bond. É um livro policial capaz de agradar a todos que gostam do gênero.