Em entrevista, o ator espanhol Javier Bardem fala sobre a construção do seu personagem para o filme 007 – Operação Skyfall, revela que assiste a seus filmes apenas uma vez.
Javier Bardem é um sujeito invejável. No círculo de atores que frequenta, é um felizardo vencedor de uma série de prêmios de prestígio, incluindo um Oscar. Na vida real, atrai o olho gordo dos homens por ter como companheira uma das mulheres mais desejadas do mundo, a atriz Penéelope Cruz. Apesar disso, o espanhol de 44 anos não se deslumbra. Ao menos é essa humildade que deixa transparecer em suas aparições e declarações públicas, o que fica claro na entrevista que concedeu como parte da divulgação de 007 – Operação Skyfall, seu mais recente longa.
Um belo exemplo dessa personalidade são suas atitudes diante do sucesso. Diferente de outros atores estrangeiros, Bardem nunca largou seu carinho pelo cinema latino e, principalmente, pelo de seu país. Mesmo consagrado em Hollywood, ele segue alternando grandes produções com outras menos lucrativas, responsáveis por manter boa parte de seu prestígio. Prova disso é a lista recente das produções em que atuou, na qual figuram filmes mexicanos e espanhóis de baixo orçamento entre romances e blockbusters estrelados por figuras como Tom Cruise e Julia Roberts.
A posição fica ainda mais clara quando se analisa a própria postura que o ator tem em relação a seus próprios trabalhos: ele prefere simplesmente não assisti-los. “Nunca gostei de me assistir nos filmes”, afirma, se distanciando de muitos artistas que têm essa como uma de suas principais características fora das telas. “Alguns atores realmente não se assistem e eu entendo isso. Para mim, basta assistir aos meus filmes uma vez.”
Em 007 – Operação Skyfall, Bardem interpreta Raoul Silva, um ex-agente secreto que se torna cyberterrorista responsável por revelar identidades de agentes de campo em busca de vingança contra o MI6, em uma caricata interpretação à altura dos melhores vilões dos filmes de 007. “Mas essa característica não é algo que você faz de forma lógica”, explica o ator. “Quando li o roteiro, percebi que havia algumas opções para minha interpretação. Não muitas, mas duas ou três que seguiriam da forma correta a complexidade da produção. Com isso em mãos, me aproximei de Sam (Mendes, diretor) para que ele me dissesse o que achava, e tudo o que ele me disse é que a interpretação estava muito divertida e criativa.”
Bardem, no entanto, não está acostumado a interpretar vilões nas telas. Em sua longa carreira de mais de 20 filmes, além de uma série de atuações na TV espanhola, o ator interpretou vilões em poucas ocasiões. Nas suas próprias contas, três. Mas, para quem deu vida ao assassino de aluguel Anton Chigurh em “Onde Os Fracos Não Têm Vez” – e ganhou o mais desejado dos prêmios do cinema pelo papel, um Oscar, de Melhor Ator Coadjuvante, interpretar Silva foi “fichinha”.
“De fato, eu não acho que realmente Silva seja malvado. Só pensei que ele fosse uma pessoa com muitas coisas a resolver. A partir do momento em que li o roteiro de 007 – Operação Skyfall senti que não tinha nada a ver com o trabalho anterior, porque (Silva) é um ser mais perturbado por ser humano mesmo.”
Para encontrar esse meio-termo entre o malvado e o bom, Bardem dá créditos a toda a produção. Isso porque, segundo ele, as características de seu personagem já estavam escritas no roteiro original e foi por meio das tentativas de Sam Mendes que os personagens foram ganhando a dimensão exibida na tela.
“O que ele fez foi enfocar a mesma cena com opções diferentes. Algo como, ‘vamos fazer essa versão e depois vamos fazer o oposto dela’. Assim, ele fazia do seu jeito e depois juntava as peças do que queria para que tudo tivesse sentido”, explica. “E eu amo esse roteiro. Na primeira vez que o li logo pensei que era um filme muito bom e poderoso. E, sim, era, acima de tudo, um filme de James Bond, mas não soava desta forma. O vejo mais como um grande filme com James Bond inserido nele.”
A atuação em um longa que desde sempre o agradou também deixa Bardem pronto para enfrentar uma nova fase, que, além de lhe manter como ídolo enquanto ator, o transforma em ídolo no hall dos vilões a já terem protagonizado um filme da franquia.
“Estou pronto para dar amor incondicional e atenção incondicional aos fãs de Bond, porque esta é a minha primeira vez e ela será eterna.”
Com informações Terra. █
Sem Comentários